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Deste modo ou daquele modo. 
Conforme calha ou não calha. 
Podendo às vezes dizer o que penso, 
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas, 
Vou escrevendo os meus versos sem querer, 
Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos, 
Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse 
Como dar-me o sol de fora. 
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Procuro dizer o que sinto
Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto. 
Procuro encostar as palavras à ideia 
E não precisar dum corredor 
Do pensamento para as palavras 
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Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado 
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.
.Procuro despir-me do que aprendi, 
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, 
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, 
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, 
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, 
Mas um animal humano que a Natureza produziu. 
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E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada. 
E assim escrevo, ora bem ora mal, 
Ora acertando com o que quero dizer ora errando, 
Caindo aqui, levantando-me acolá, 
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.
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Ainda assim, sou alguém.
Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza. 
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras. 
Trago ao Universo um novo Universo 
Porque trago ao Universo ele-próprio. 
..
Isto sinto e isto escrevo
Isto sinto e isto escrevo
Perfeitamente sabedor e sem que não veja 
Que são cinco horas do amanhecer 
E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça 
Por cima do muro do horizonte, 
Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos 
Agarrando o cimo do muro 
Do horizonte cheio de montes baixos.
...........................................................Alberto Caeiro
...........................................................Alberto Caeiro
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Grupo I
.Grupo I
1. De entre as afirmações seguintes, identifique aquela que completa a frase, de acordo com o poema.
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1.1. O texto propõe uma arte poética. De acordo com o sujeito poético, escrever é
a) apresentar o resultado da experiência das sensações.
b) um acto espontâneo e natural.
c) aprender pela sensação os segredos da Natureza.
d) um esforço consciente para a transmissão das ideias.
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1.2. Quando o sujeito poético afirma "Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. / O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado / Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar" (vv. 14-16), isto significa que
a) o pensamento é dificultado pelas dúvidas humanas.
b) o pensamento não consegue processar a sensação.
c) o convencional inibe a fruição plena do real pelos sentidos.
d) o sujeito poético lentamente supera as inquietações metafísicas.
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2. Explique em que medida o contacto com os homens é um obstáculo à produção do sujeito poético.
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3. Clarifique o sentido do último verso da quinta estrofe.
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4. Justifique a referência final ao sol, ao horizonte e aos montes.
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5. Refira, apresentando uma fundamentação adequada, em que medida este poema utiliza uma
linguagem característica da poesia de Alberto Caeiro.
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Grupo III
1.1. O texto propõe uma arte poética. De acordo com o sujeito poético, escrever é
a) apresentar o resultado da experiência das sensações.
b) um acto espontâneo e natural.
c) aprender pela sensação os segredos da Natureza.
d) um esforço consciente para a transmissão das ideias.
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1.2. Quando o sujeito poético afirma "Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. / O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado / Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar" (vv. 14-16), isto significa que
a) o pensamento é dificultado pelas dúvidas humanas.
b) o pensamento não consegue processar a sensação.
c) o convencional inibe a fruição plena do real pelos sentidos.
d) o sujeito poético lentamente supera as inquietações metafísicas.
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2. Explique em que medida o contacto com os homens é um obstáculo à produção do sujeito poético.
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3. Clarifique o sentido do último verso da quinta estrofe.
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4. Justifique a referência final ao sol, ao horizonte e aos montes.
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5. Refira, apresentando uma fundamentação adequada, em que medida este poema utiliza uma
linguagem característica da poesia de Alberto Caeiro.
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Grupo III
Partindo da análise das duas imagens, escreva uma reflexão sobre a vida nas grandes cidades. Redija um texto bem estruturado entre duzentas e trezentas palavras.
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In Exames Resolvidos de Português, Porto Editora (adaptação)
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3 comentários:
onde é que está o power point das frases subordinadas?
bjs
Deve estar doente dos olhos... tire os adesivos... talvez veja...
Boa noite, estou a analisar este poema e tenho dúvidas na estrofe que diz:
"9 - Procuro dizer o que sinto
10- Sem pensar em que o sinto.
11- Procuro encostar as palavras à ideia
12- E não precisar dum corredor
13- Do pensamento para as palavras
14- Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
15- O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a
16- nado
17- Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar."
preciso de apresentar o poema À turma e não consigo perceber a que se refere o autor quando menciona o "fato que os homens o fizeram usar" nem quando diz q o pensamento atravessa lentamente o rio a nado
agradecia resposta breve, obrigada
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