domingo, janeiro 27, 2008

Teste sobre Os Lusíadas - 12.º Ano

Grupo I
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37
Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prósperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite estando descuidados,
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem que os ares escurece
Sobre nossas cabeças aparece.
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38
Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo o negro mar, de longe brada
Como se desse em vão nalgum rochedo.
- "Ó Potestade, disse, sublimada:
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?"
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39
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
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40
Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te, que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo:
Com um tom de voz nos fala horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo.
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41
E disse: — "Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas,
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados d'estranho ou próprio lenho:
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42
Pois vens ver os segredos escondidos
Da natureza e do húmido elemento,
A nenhum grande humano concedidos
De nobre ou de imortal merecimento,
Ouve os danos de mim, que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento,
Por todo o largo mar e pela terra,
Que ainda hás de sojugar com dura guerra.
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43
Sabe que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizerem de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem
Com ventos e tormentas desmedidas.
E da primeira armada que passagem
Fizer por estas ondas insofridas,
Eu farei d'improviso tal castigo,
Que seja mor o dano que o perigo!
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44
Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu, suma vingança.
E não se acabará só nisto o dano
Da vossa pertinace confiança:
Antes em vossas naus vereis cada ano,
Se é verdade o que meu juízo alcança,
Naufrágios, perdições de toda sorte,
Que o menor mal de todos seja a morte!

Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto V
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Depois de uma leitura atenta, responda, de forma clara e correcta, às questões.
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1. Assinale a alínea que considera correcta.
1.1. As estâncias transcritas situam-se no plano:
a) mitológico e do poeta;
b) do poeta e da História;
c) da viagem e mitológico;
d) da História e da viagem.
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1.2. O Gigante Adamastor é uma personagem:
a) da mitologia greco-romana;
b) criada por Camões;
c) criada pela mística popular;
d) criada por Camões com elementos da mitologia greco-romana.
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1.3. O aparecimento da figura do Adamastor provoca nos nautas sentimentos de:
a) expectativa e terror;
b) estupefacção e medo;
c) expectativa e surpresa;
d) medo e surpresa.
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1.4. Identifica os recursos estilísticos presentes nos versos "E navegar meus longos mares ousas, / Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, / Nunca arados de estranho ou próprio lenho":
a) metáfora e anástrofe;
b) comparação e perífrase;
c) hipérbole e metáfora;
d) anástrofe e comparação.
1.4.1. Indique o valor expressivo dos recursos estilísticos que identificou na pergunta anterior.
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2.Localize este excerto na estrutura da obra a que pertence.
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3. Antes de o Gigante Adamastor surgir perante os nautas, há o registo de algumas alterações a nível atmosférico. De que forma a atmosfera criada, a figura e a voz do Adamastor contribuem para uma visão do "terrífico"?
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4. O discurso do Adamastor surge eivado de palavras que provocam sentimentos negativos. De acordo com o discurso por ele proferido, que sentimentos contraditórios revela este mesmo Gigante em relação aos navegadores portugueses?
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5. Como se justifica o facto de Camões colocar na boca do Adamastor profecias de naufrágios, que sabemos não serem contemporâneas de Vasco da Gama?
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6. O Gigante surge n'Os Lusíadas como o maior desafio dos Portugueses. O Homem, simples bicho da terra, vacila, mas teima em seguir o caminho traçado. Perante o exposto, explicite a simbologia do Gigante Adamastor.
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7. Interprete os versos "E disse: "Ó gente ousada, mais que quantas / No mundo cometeram grandes cousas, / Tu, que por guerras cruas, tais e tantas, / E por trabalhos vãos nunca repousas, / Pois os vedados términos quebrantas".
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Grupo II
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Funcionamento da Língua
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1. De entre as afirmações seguintes, escolha, identificando através da alínea respectiva, a hipótese que corresponde à alternativa correcta.

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1.1. O adjectivo presente no verso, "De Rodes estranhíssimo Colosso" encontra-se no grau:
a) superlativo absoluto analítico;
b) normal;
c) superlativo absoluto sintético;
d) comparativo de superioridade.
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1.2. No verso «E disse: "Ó qente ousada mais que quantas..."» a expressão sublinhada
desempenha a função sintáctica de:
a) complemento directo;
b) vocativo;
c) aposto;
d) sujeito.
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1.3. A forma verbal "seja" (est.43, v.8) está no:
a) presente do indicativo.
b) presente do conjuntivo.
c) imperativo.
d) pretérito mais-que-perfeito.
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2. Faça corresponder aos elementos do grupo A os elementos do grupo B, de modo a obter
informações verdadeiras.
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Grupo A
1) "rosto carregado, a barba esquálida, / Os olhos encovados..." (est.39, vv.4-5)
2) "Mais que quantas I No mundo cometeram grandes causas" (est.41, vv.1-2)
3) "Porém já cinco sóis eram passados" (est.37, v.1)
4) Por todo o largo mar e pola terra" (est.42, v.7)
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Grupo B
a) O enunciador exprime uma ideia de afastamento espácio-temporal.
b) O enunciador expressa uma ideia de comparação.
c) O enunciador exprime uma ideia de concessão.
d) O enunciador traduz uma ideia do fluir do tempo.
e) O enunciador expressa uma ideia de dúvida.
f) O enunciador encara uma ideia de contraste.
g) O enunciador traduz uma ideia de exclusividade.
h) O enunciador introduz uma enumeração em que todos os elementos têm estatuto semelhante.
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3. Identifique as afirmações verdadeiras (V) e as afirmações falsas (F), justificando as falsas.
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Afirmações
a) Nos versos "Tão temerosa vinha e tão carregada / Que pôs nos corações um grande medo, a frase sublinhada é uma frase subordinada causal.
b) No verso “Tu por guerras cruas", a palavra sublinhada é polissémica.
c) A palavra “esquálida” é um nome comum.
d) No verso “ Que dali nos partíramos", o pronome sublinhado desempenha a função sintáctica de complemento preposicional.
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Grupo III
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Expressão escrita
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Leia com atenção, o texto que se segue e elabore a sua síntese.

A acção dos portugueses na Índia visava estabelecer um monopólio comercial e também derrotar o muçulmano (o «mouro») inimigo político e religioso que Portugal sempre enfrentara, e que nesta circunstância detinha, no comércio asiático, o papel que pretendíamos para nós. Ora os responsáveis dão-se conta, a breve trecho, de que mesmo as relações comerciais só seriam possíveis se se baseassem no uso da força. E os orientais só nos respeitariam na medida em que demonstrássemos superioridade guerreira.
Os Portugueses tinham chegado à Índia com o principal objectivo de conseguir especiarias e outra mercadoria lucrativa. Apresentavam-se também como cruzados em luta permanente contra o Islão. Depressa se deram conta de que, para obter o controle das fontes de especiarias e do comércio no Oceano Índico, precisavam de destruir a rede antiquíssima dos mercadores e das feitorias muçulmanas. Para mais, vinham achar o islamismo como uma das principais religiões de toda a costa asiática. Nestes termos, especiarias e guerra teriam de estar sempre juntas, e quaisquer finalidades pacíficas que a princípio tivessem, cedo haveriam de se converter em política de agressão estratégica, destruição e conquista final.
De 1498 a 1505, os Portugueses limitaram-se ao cômputo do que tinham a fazer. Conseguiram obter licença de alguns rajás locais para estabelecer feitorias em Cochim, Cananor e Coulão, na costa ocidental da Índia, e em S. Tomé de Meliapor, na costa oriental. Contudo, a política de violência começara desde logo.
Intrigas locais onde os Muçulmanos desempenhavam sempre acção de relevo, somadas à inevitável desconfiança e falta de tacto dos Portugueses, levaram Pedro Álvares Cabral a bombardear a cidade em 1500. Novos bombardeamentos tiveram lugar em 1503 e 1504, até que um tratado foi imposto a Calecute pela superioridade das armas ocidentais.
( adaptação de “Preparação para Testes e Exame Nacional de Português – 12.º Ano”, Sebenta Editora)

5 comentários:

"Entre Aspas" disse...

professor ja publiquei o plano guia.
nem sabe o que é estar no copa cabana bar e ter de ir para casa fazer isto... lool
Abraço

"Entre Aspas" disse...

ass:carlos

"Entre Aspas" disse...

professor já publiquei texto mais uma vez ao sábado à noite!
abraço
ass:carlos

Perdidos na Teia disse...

PROFESSOR DESNATURADO. JÁ NEM FAZ "COMENTS" AOS SEUS ALUNOS .

portugues disse...

Podia dizer quais são os poemas de Fernando pessoa ortónimo que constam no livro da sebenta