quinta-feira, janeiro 24, 2008

Exame Nacional de Português 2006 - 12.ºAno

Grupo I
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Leia atentamente, o texto, constituído por cinco estãncias de Os Lusíadas, extraídas do Canto VII
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78
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.
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79
Queixas do poeta. Perigos da guerra.
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A fortuna mo traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo, e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Canace, que à morte se condena,
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena.
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80.
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo, mais que nunca, derribado;
Agora às costas escapando a vida,
Que dum fio pendia tão delgado
Que não menos milagre foi salvar-se
Que para o Rei Judaico acrescentar-se.
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81
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles, que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram.
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82
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
O vosso Tejo cria valorosos,
Que assim sabem prezar com tais favores
A quem os faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Para espertar engenhos curiosos,
Para porem as coisas em memória,
Que merecerem ter eterna glória!
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(consulte o manual na página 81, se tiver dúvidas relativamente ao vocabulário.)
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Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
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1. O texto pertence a uma das invocações de Os Lusíadas.
1.1. Releia a estância 78 e identifique os elementos do discurso que, nesta estância, constituem marcas de invocação.
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2. Baseando-se no texto, refira cinco aspectos marcantes da caracterização que o sujeito poético faz da sua vida.
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3. Explicite um dos valores expressivos da anáfora “Agora” (vv. 13, 17, 19,21).
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4. Atente na estância 82. Analise a crítica social e política expressa nesta oitava.
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5. "Os Lusíadas suscitam reacções contraditórias. São, por um lado, uma obra laboriosa e árdua de ler - e, por outro, um deleite, para dizer como Tétis ao Gama."
Fernando Gil e Hélder Macedo, Viagens do Olhar. Porto, Campo das Letras, 1998
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Partindo do juízo expresso na afirmação acima transcrita, descreva, num texto de sessenta a cem palavras, a sua reacção de leitor relativamente a Os Lusíadas.
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Observações relativas ao item 5.
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2006/).
2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.

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GRUPO II
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Leia, atentamente, o seguinte texto.
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"Os portugueses lêem menos jornais e periódicos do que qualquer país da União. Cinco a dez vezes menos, conforme os países. E tenhamos consciência de que as chamadas taxas de leitura desses países já eram o que são hoje há várias décadas. Tal como as portuguesas. Quer isto dizer que se pode quase admitir que existe um patamar de leitura de imprensa (eventualmente também de livros, eis uma questão para a qual não temos resposta) que o crescimento económico não parece conseguir elevar. Em muitos sectores, os portugueses recuperam atrasos ou, melhor dizendo, encurtam a distância que os separa de outros povos. Mas tal não é o caso quando olhamos para a leitura e a circulação de periódicos e de livros. (...)
A leitura de livros e de jornais é um hábito, uma necessidade cultural e uma exigência profissional, relativamente independente dos níveis de desenvolvimento económico. Por outras palavras, a leitura de livros e de jornais, durante os séculos XIX e XX, não aumenta necessariamente com o Produto Nacional Bruto. Nem nas mesmas proporções que a alfabetização e a escolarização. (...) Quer isto dizer que há factores explicativos, designadamente históricos, que podem influenciar de modo determinante os níveis de leitura.
No caso português, para retomar a minha hipótese de trabalho, quando foram atingidos níveis razoáveis de escolaridade e quando as taxas de analfabetismo começaram a descer abaixo dos 40 a 50 por cento, já existiam a rádio e sobretudo a televisão. Para a maioria dos portugueses, a palavra escrita nunca foi a principal fonte de informação cultural, profissional, quotidiana, familiar ou política. A televisão instalou-se em Portugal e cobriu o território antes de a escola o ter conseguido. (...) Até porque esta não compreendia os adultos ou os idosos e apenas acolhia as crianças e os adolescentes, nem sequer todos, durante um muito curto período de tempo. Desde então, consolidou-se o lugar da televisão como fonte primordial de informação (e de entretenimento e de consumo cultural), sem que nunca antes a leitura de livros e de periódicos se tivesse generalizado ao País, às regiões e às classes sociais.
António Barreto. "O livro é eterno", in Tempo de Incerteza, Lisboa, Relógio d'Água, 2002
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1. Para cada um dos quatro itens que se seguem (1.1., 1.2., 1.3., 1.4.) escreva, na sua folha de respostas, a letra correspondente à alternativa correcta, de acordo com o sentido do texto.
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1.1. Segundo o autor, há várias décadas que a taxa de leitura de imprensa em Portugal é inferior à dos outros países da União Europeia (UE). Tal facto corresponde à situação seguinte:
a) o número de leitores tem subido em todos os países da UE, excepto em Portugal.
b) o crescimento económico dos outros países da UE tem favorecido a expansão da leitura.
c) as taxas de leitura em Portugal e nos outros países da UE têm-se mantido inalteráveis.
d) a incapacidade portuguesa de recuperar atrasos tem marcado toda a vida nacional.
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1.2. Segundo o autor, os fracos índices de leitura de livros e de jornais, no Portugal de hoje, são fundamentalmente determinados pelo facto de
a) o Produto Nacional Bruto ter vindo a aumentar de forma muito pouco significativa.
b) as taxas de analfabetismo terem permanecido demasiado elevadas entre os portugueses.
c) os níveis de escolaridade atingidos pela população portuguesa serem insuficientes.
d) o hábito de ver televisão se ter enraizado antes de se ter generalizado o hábito de ler.
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1.3. O recurso às expressões “A leitura de livros e de jornais”, “a leitura de livros e de jornais" e "a leitura de livros e de periódicos"
a) contribui para reforçar o carácter descritivo do texto.
b) serve para introduzir enumerações ilustrativas.
c) mobiliza significados diferentes das expressões.
d) constitui um mecanismo de coesão lexical do texto.
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2. Neste item, faça corresponder a cada um dos quatro elementos do grupo A um elemento do grupo B, de modo a obter afirmações verdadeiras. Escreva, na sua folha de respostas, ao lado do número da frase, a alínea correspondente.
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A
1 . Com o uso da conjunção coordenativa adversativa "Mas"( no início da última frase do primeiro parágrafo).
2. Com a expressão "Por outras palavras. (no início da segunda frase do segundo parágrafo).
3. Com o recurso à forma do verbo auxiliar modal “podem”. (na última frase do segundo parágrafo)
4. Com a apresentação de informações entre parêntesis (na última frase do texto)
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B
a. o enunciador exprime um contraste relativamente à ideia antes apresentada.
b. o enunciador introduz aspectos acessórios relativamente ao tópico que se encontra a tratar.
c. o enunciador recorre à autoridade de alguém para reforçar as suas ideias.
d. o enunciador apresenta o conteúdo da frase como uma possibilidade.
e. o enunciador introduz uma explicitação das afirmações anteriormente feitas.
f. o enunciador narra um acontecimento ilustrativo da ideia exposta.
g. o enunciador define a estrutura global do texto.
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GRUPO III
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Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresente uma reflexão sobre a tese relativa às preferências culturais dos jovens, exposta no texto a seguir transcrito. Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
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“Cultura clássica é o conjunto dos géneros estabelecidos: o livro, o cinema, o teatro, as exposições. Assiste-se progressivamente à substituição destes domínios instalados pelas tradições e pelas escolas por uma outra forma de cultura, particularmente apreciada pelos jovens e, claro, por eles veiculada, e que é constituída pelo vídeo, pelas magias informáticas, pelos novos modos de comunicar ou de ouvir música ou por essas mesmas músicas, o rap ou a tecno."
Bernard Pivot, cito in José Afonso Furtado, Os Livros e as Leituras - Novas Ecologias da Informação, Lisboa, Os Livros e Leituras, 2000
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Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2006/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, há que atender ao seguinte:
- a um texto com uma extensão inferior a oitenta palavras é atribuída a cotação de O (zero) pontos;
- nos outros casos, um desvio dos limites de extensão requeridos implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.

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