segunda-feira, maio 26, 2008

Teste sobre o Memorial do Convento

Grupo I
.
Nove anos procurou Blimunda. Começou por contar as estações, depois perdeu-lhes o sentido. Nos primeiros tempos calculava as léguas que andava por dia, quatro, cinco, às vezes seis, mas depois confundiram-se-lhe os números, não tardou que o espaço e o tempo deixassem de ter significado, tudo se media em manhã, tarde, noite, chuva, soalheira, granizo, névoa e nevoeiro, caminho bom, caminho mau, encosta de subir, encosta de descer, planície, montanha, praia do mar, ribeira de rios, e rostos, milhares e milhares de rostos, rostos sem número que os dissesse, quantas vezes mais os que em Mafra se tinham juntado, e de entre os rostos, os das mulheres para as perguntas, os dos homens para ver se neles estava a resposta, e destes nem os muito novos nem os muito velhos, alguém de quarenta e cinco anos quando o deixámos além no Monte Junto, quando subiu aos ares, para sabermos a idade que vai tendo basta acrescentar-lhe um ano de cada vez, por cada mês tantas rugas, por cada dia tantos cabelos brancos. Quantas vezes imaginou Blimunda que estando sentada na praça duma vila, a pedir esmola, um homem se aproximaria e em lugar de dinheiro ou pão lhe estenderia um gancho de ferro, e ela meteria a mão ao alforge e de lá tiraria um espigão da mesma forja, sinal da sua constância e guarda, Assim te encontro, Blimunda, Assim te encontro, Baltasar, Por onde foi que andaste em todos estes anos, que casos e misérias te aconteceram, Diz-me primeiramente de ti, tu é que estiveste perdido, Vou-te contar, e ficariam falando até ao fim do tempo.
Milhares de léguas andou Blimunda, quase sempre descalça. A sola dos seus pés tornou-se espessa, fendida como uma cortiça. Portugal inteiro esteve debaixo destes passos, algumas vezes atravessou a raia de Espanha porque não via no chão qualquer risco a separar a terra de lá da terra de cá, só ouvia falar outra língua, e voltava para trás. Em dois anos, foi das praias e das arribas do oceano à fronteira, depois recomeçou a procurar por outros lugares, por outros caminhos, e andando e buscando veio a descobrir como é pequeno este país onde nasceu, Já aqui estive, já aqui passei, e dava com rostos que reconhecia, Não se lembra de mim, chamavam-me Voadora, Ah, bem me lembro, então achou o homem que procurava, O meu homem, Sim, esse, Não achei, Ai pobrezinha, Ele não terá aparecido por aqui depois de eu ter passado, Não, não apareceu, nem nunca ouvi falar dele por estes arredores, Então cá vou, até um dia, Boa viagem, Se o encontrar.
.
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
.
1. Baseando-se nos três primeiros períodos do texto, indique duas características da percepção que Blimunda vai tendo do tempo, enquanto procura Baltasar.
.
2. Releia a narrativa, a partir de “e andando e buscando”.
2.1. Identifique duas das vozes aí presentes, exemplificando cada uma das vozes por si indicadas com duas transcrições do texto.
2.2. Explicite duas das funções das falas contidas neste excerto.
.
3. Refira cinco dos traços caracterizadores de Blimunda, fundamentando-se no texto.
.
4) Escolha uma das seguintes propostas de comentário:
.
a) «Memorial do Convento [...] traça do século XVIII uma visão extraordinária.»
Oscar Lopes, «Romancista por Vocação», in Diário de Noticias, 9 de Outubro de 1998
Partindo desta opinião de Óscar Lopes, apresente, num texto de sessenta a cem palavras, o aspecto para si mais marcante do século XVIII português, tal como é evocado no romance de Saramago.
.
b) «Bliimunda representa um elemento mágico não explicado.»
José Saramago, D Jornal, 28.01.1983
Comente o juízo crítico apresentado, fundamentando-se na sua experiência de leitor. Redija um texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de cem a cento e cinquenta palavras.

c) “... a História é neste universo saramaguiano submetida a um peculiar tratamento. Não se trata, com efeito, de reproduzir fielmente os inabaláveis factos da História, mas, pelo contrário, de aproveitar acontecimentos e figuras que, mesclados com a imaginação (re)criadora do autor viabilizam a construção de uma História marginal à versão oficial.”
in Memorial do Convento, História, Ficção e Ideologia de Ana Paula Arnaut
Elabore uma dissertação em que aborde de forma desenvolvida e fundamentada a questão do papel da História no processo de construção do romance.
In “Português 12º o essencial” – Edições Asa
Grupo II
.
FMI reconhece que globalização gerou contenção salarial nos países mais ricos
A oferta de mão-de-obra no mercado mundial quadriplicou em 25 anos. Em países como Portugal, o impacto é a contenção nos salários e no emprego.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reconheceu, pela primeira vez, que o processo de globalização e, em particular, o aumento da mão-de-obra disponível na economia mundial estão a acentuar a desigualdade na distribuição de rendimentos nos países mais ricos e a provocar contenção salarial. (...)
Num estudo (...) publicado, a entidade (...) calcula que, durante os últimos 25 anos, a força de trabalho que,compete nos mercados internacionais mais do que quadriplicou, com a maior parte da subida a registar-se já depois de 1990. A abertura das economias asiáticas e do Leste europeu ao exterior foram o principal motor deste aumento de mão-de-obra disponível e que é, na sua maioria, pouco qualificada.
O impacto deste fenómeno nos países ricos, sentido através de mais importações, deslocalizações da produção e imigração, é a contenção nos salários e na criação de emprego. "A globalização é um dos factores que têm levado à redução da parte do rendimento que é distribuído pelo factor trabalho nos países avançados", afirma o relatório.
Vários economistas têm vindo a assinalar que o aumento dos lucros registados pelas empresas do mundo desenvolvido não tem sido acompanhado por ganhos semelhantes por parte dos trabalhadores por conta de outrem. E alertam para a possibilidade de poderem regressar às políticas económicas proteccionistas, se não se resolver esta situação.
Nos Estados Unidos, alguns dos candidatos mais bem-sucedidos nas últimas eleições para o Congresso defenderam a aplicação de medidas que dificultem a entrada em massa de produtos chineses no país, alegando que estavam a prejudicar o mercado de trabalho interno. Na Europa, vários governos têm pressionado a Comissão Europeia para rever os acordos assinados com a China relativamente à importação de vestuário e calçado.
Portugal é nesta matéria um dos países mais afectados, uma vez que o peso das indústrias de mão-de- -obra intensiva é muito elevado. A sequência de deslocalizações de unidades produtivas, tanto no vestuário e calçado como no sector automóvel, tem contribuído para que se tivesse sentido no país, durante os últimos dois anos, uma forte contenção salarial. (...)
Apesar de reconhecer este efeito negativo, o FMI faz questão de salientar (...) que os trabalhadores dos países mais ricos também retiraram vantagens da globalização. "Estão a beneficiar do maior bolo económico que agora existe, embora a sua parte nele tenha diminuído", afirma. Defende de igual modo que, para além da globalização, outros factores têm contribuído para o agravamento da desigualdade, nomeadamente as rápidas transformações tecnológicas.
O FMI recomenda que, para fazer face ao impacto na "distribuição do rendimento", os países devem apostar na educação e fortalecer o sistema de segurança social.
Sérgio Aníbal, in Público, 6 de Abril 2007 (adaptado)
.
1. Classifique como verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das seguintes afirmações, de acordo com o sentido do texto.
a) No primeiro parágrafo, o enunciador parte de um fenómeno geral para seguidamente a especificar um aspecto desse mesmo fenómeno.
b) A disponibilidade de mão-de-obra é inversamente proporcional aos ganhos dos trabalhadores por conta de outrem.
c) A expressão "Vários economistas" (l. 12) qualifica a posição apresentada como uma visão especializada, o que lhe confere um valor de autoridade.
d) Uma das consequências políticas da globalização é a tendência para o abrandamento na adopção de políticas de cariz proteccionista.
e) Portugal é afectado pelo fenómeno do mesmo modo que a generalidade dos países.
f) De acordo com o FMI, assiste-se actualmente a uma diferente distribuição de um volume de riqueza que, efectivamente, cresceu.
.
2. Faça corresponder a cada um dos cinco elementos do Grupo A um elemento do Grupo B.
Grupo A
1. A sequência FMI
2. O vocábulo "deslocalizações"
3. A perífrase verbal "têm vindo a assinalar”
4. A expressão "Apesar de reconhecer"
5. O último parágrafo do texto
.
Grupo B
a) apresenta uma actualização da modalidade deôntica.
b) expressa um nexo lógico de consequência.
c) é formado por meio de afixação.
d) exemplifica um processo de siglação.
e) relativamente à sua caracterização, veicula um valor aspectual pontual.
f) relativamente à sua caracterização, veicula um valor aspectual durativo.
g) expressa um nexo lógico de concessão.
h) apresenta uma actualização da modalidade apreciativa.
.
3. Reescreva as frases seguintes, respeitando as indicações fornecidas em cada alínea:
a) iniciando a frase por "Caso"
"Vários economistas f...J alertam para a possibilidade de poderem regressar às polfticas econômicas proteccionistas, se não se resolver esta situação. "
b) iniciando a frase por "Como":
"Portugal é nesta matéria um dos países mais afectados, uma vez que o peso das indús- trias de mão-de-obra intensiva é muito elevado."

4. Leia atentamente a sequência textual seguinte:
O impacto da globalização nos países ricos, sentido através de mais importações, deslocalizações de produção e imigração, é a contenção nos salários e na criação de emprego. A globalização é um dos factores que têm levado ao aumento da parte do rendimento que é distribuído pelo factor trabalho nos países avançados.
1.1. Explique por que razão podemos afirmar que nela é desrespeitada a regra da não contradição.
In “ Testes de Avaliação 12.º ano – Português” – Porto Editora
GRUPO III
.
Escolha uma das seguintes propostas de produção escrita:
.
A) “A religião nasce da necessidade de entender um universo que escapa à nossa compreensão por causa da sua complexidade profunda e ordenada. A religião agiu, nos melhores períodos da civilização humana, para complementar a nossa compreensão científica dos fenómenos naturais. Pode e procura dar respostas às perguntas que são demasiado difíceis para a ciência responder. Apresentando um conjunto de orientações e de rituais como contrapeso ao lado destrutivo da natureza humana, as religiões do mundo com sucesso impediram, mais ou menos, a humanidade de se desmoronar no caos e no barbarismo.”
Nikos A. Salíngaros, "Anti-arquitectura e religião" (trad. revista por Hermínio Rico SJ), in Brotéria, 155 (Novembro de 2002), Lisboa
Numa dissertação, de 200 a 300 palavras, discuta esta tese de Salíngaros, expondo um ponto de vista devidamente fundamentado sobre o tema: A religião.
Com o texto da sua dissertação, deverá apresentar o respectivo plano.

B) O World Water Development Report (…) sustenta que, neste princípio de século, a Terra já está a viver uma ‘séria crise da água', que tende a piorar, a não ser que se faça algo, e rapidamente. Esta crise gira sobretudo em torno da escassez de água, embora a poluição seja um dos principais motivos que contribuem para a menor disponibilidade dos recursos hídricos.
Ricardo Garcia, Sobre a Terra, Lisboa, in Público, 2004
Numa dissertação, de 200 a 300 palavras, discuta esta tese, expondo um ponto de vista devidamente fundamentado sobre o tema: A importância da água.
Com o texto da sua dissertação, deverá apresentar o respectivo plano.
In “Preparação para o Exame Nacional 2006 – Português” – Porto Editora

Sem comentários: